A ideia sobre aposentadoria, de considerável parcela da população, é a de ganhar sem fazer nada. Tal pensamento é parte da cultura, observada e aprendida, inclusive, pelas crianças. O negócio está em somar os anos trabalhados no passado para subtrair qualquer trabalho dos anos futuros. É uma matemática arriscada em relação ao tipo de qualidade de vida que se deseja. Destaque-se, contudo, que não se trata aqui, de discutir sobre o dinheiro a que faz jus o aposentado. Não. Esse é sagrado. Assim, o que está em jogo, é a mentalidade destrutiva da acomodação.
A ilusão de que boa vida significa ganhar, sem mover uma palha, já fez inúmeras vítimas (e já encaminha as próximas). A falta de atividade leva o ser humano a estados comprovadamente negativos. É a jornada do mal-estar, que piora de forma crescente. Doenças cardiovasculares e obesidade, por exemplo, fazem parte de tais malefícios. Mais: percebe-se, até, a intensificação do estado doentio sob condições acomodadas: “A dor é maior, o remédio já não faz tanto efeito”. E quando o organismo se encontra em condições favoráveis, a pessoa procura doença: “Parece que sinto uma dorzinha aqui, outra acolá…”. A falta de ocupação trata de se ocupar desfavoravelmente. A cabeça não ajuda. Frustração, tristeza, depressão, ansiedade, distanciamento social de parentes e amigos (eles também se afastam) diagnosticam a sinistra situação. O passo seguinte é a invenção das desculpas, para si e os demais, que justificam as razões de se viver tão mal.
Pijama ou camisola assume o padrão diurno que outrora servia apenas como vestuário para o descanso noturno. Louça simples, como um copo usado, mantém-se sobre a pia da cozinha por horas. Quintais, que antes serviam de cartão postal para a vizinhança, hoje, não passam de deprimente cenário que retrata o amontoado de folhas. O outono e inverno da idade; belos e importantes no ciclo vital, se deformam através da impiedosa passividade. O sol já não brilha como outrora. O que restou, então?
Para quem deseja mudar (ou agir preventivamente), a primeira sugestão é compreender que a mentalidade precisa colaborar, ao perceber que o próprio aposentado se encaminha à sua condição, e é justamente, por meio dele, que se pode melhorar. Está em si mesmo, boa parte da solução. Paralelamente, estabelecer rotinas saudáveis, como caminhar diariamente. O exercício físico proporciona resultados essenciais: melhora do controle de doenças como a hipertensão, diabetes etc. Alimentação adequada. Busca da auto-realização através do estudo da arte, mecânica, artesanato, filosofia, informática, política, história, instrumento musical, entre outras coisas prazerosas. Participação constante em atividades sociais, gratuitamente que seja, pois não há preço que pague o bem-estar e a perspectiva de dias mais esperançosos e cheios de vigor.
Mas, vale lembrar: mexa-se, não se acomode, senão a aposentadoria faz mal!
Armando Correa de Siqueira Neto é psicólogo, palestrante, professor e mestre em Liderança. Coautor dos livros Gigantes da Motivação, Gigantes da Liderança e Educação 2006.