É na adolescência que as mulheres e os homens passam por um conjunto de alterações físicas e emocionais que não podem ser encaradas, apenas, como uma simples adaptação às transformações corporais.
Algumas mudanças como o crescimento dos pelos pubianos e os ciclos menstruais desregulados são comuns nessa fase para a menina.
De todas as reflexões e estudos sobre infância e adolescência, se alguma coisa pode ser mais ou menos consensual é que, crescentemente, as crianças estão mais sozinhas ou mais na convivência com seus pares da rua do que no âmbito familiar. O pai, a mãe, ou qualquer outra figura de ligação familiar está se tornando rarefeita.
É consensual que a idade em que uma menina atinge a puberdade é bastante variável e influenciada por fatores pessoais e ambientais.
Há muitas tentativas de se definir adolescência, embora nem todas as sociedades possuam este conceito. Cada cultura possui um conceito de adolescência, baseando-se sempre nas diferentes idades para definir este período. No Brasil o Estatuto da Criança e do Adolescente define esta fase como característica dos 13 aos 18 anos de idade.
A puberdade tem um aspecto biológico e universal, caracterizada que é pelas modificações visíveis, como por exemplo, o crescimento de pelos pubianos, auxiliares ou torácicos, o aumento da massa corporal, desenvolvimento das mamas, evolução do pênis, menstruação, etc. Estas mudanças físicas costumam caracterizar a puberdade, que neste caso seria um ato biológico ou da natureza.
Crianças e adolescentes já não são mais os mesmos. Eles participam avidamente do mundo dos adultos e se transformam nos novos convidados da realidade orgástica do consumo e dos prazeres.
Em 1840 a idade média da menarca (primeira menstruação) rondava os 16-17 anos, idade claramente coincidente com o momento da incorporação da adolescente na vida adulta, na responsabilidade do matrimonio e da procriação.
Paradoxalmente, hoje em dia, nenhuma família se sentiria à vontade se a filha de 16 anos assumisse responsabilidades matrimoniais, mas não obstante, comumente aceita-se que participe plenamente (ou quase) das liberdades sexuais do mundo moderno. Hoje a sociedade espera que a jovem de 16 anos estude, se forme e encontre seu papel na sociedade. Entretanto, atualmente a média da menarca se situa em torno dos 12.8 anos.
A adolescência não é marcada apenas por dificuldades, crises, mal-estares, angústias. Ao se abandonar a atitude infantil e ingressar no mundo adulto, há uma série de acréscimos no rendimento psíquico. O intelecto, por exemplo, apresenta maior eficácia, rapidez e elaborações mais complexas, a atenção pode se apresentar com aumento da concentração e melhor seleção de informações.
No menino, as transformações começam um pouco mais tarde, por volta de 13 anos e são muito mais demoradas que nas meninas. Os primeiros sinais dessa transformação são, basicamente, o aumento no tamanho dos órgãos genitais, o nascimento da barba e o aparecimento de pelos na região pubiana, nas pernas, nos braços e no peito.
Mas a puberdade, tanto no menino quanto na menina, não proporciona apenas mudanças físicas, mas, sobretudo, psicologicamente. As alterações hormonais despertam a sensibilidade sexual e, consequentemente, é neste período que muitos adolescentes começam esporadicamente a ter relações sexuais.
Nessa fase os adolescentes costumam ansiar entusiasticamente por sensações novas, chegando a fumar, tomar bebidas alcoólicas ou usar drogas, tudo isso como forma de autoafirmar certa independência.
No período da adolescência-puberdade, as pessoas enfrentam exigências sociais novas e, às vezes, drásticas. Fazer tudo que fazem os adultos não pode, nem pode fazer coisas de crianças, pois o adolescente não é um nem outro. Entre meninos e meninas da mesma idade surgem abismos intransponíveis, pois os ritmos de amadurecimento para os meninos e para as meninas são diferentes. Isso também pode gerar consequências psicossociais importantes.
A partir dos nove anos, a menina começa a ter os primeiros sintomas da menstruação (os seios começam a crescer e ocorre a pubarca, ou seja, pelos aparecem na região pubiana), mas é entre os nove e os quatorze anos que costuma ocorrer a primeira menstruação. Entre as brasileiras, a primeira menstruação costuma ocorrer aos 11 anos, faixa etária que se manteve inalterada nas últimas décadas.
Algumas demoram um pouco mais, porém esse atraso não significa que sejam portadoras de alterações endócrinas que mereçam atenção. Às vezes, isso cria certa expectativa nas famílias. Quase nunca é necessário. Está absolutamente dentro da faixa de normalidade a menina que menstrua entre os nove e os quatorze, quinze anos.
Pode-se dizer que estamos enfrentando atualmente uma epidemia de gravidezes em adolescentes. Para ter-se uma ideia, em 1990, cerca de 10% das gestações ocorria nessa faixa etária. Em 2000, portanto apenas dez anos depois, esse índice aumentou para 18%, ou seja, praticamente dobrou o número de mulheres que engravidam entre os 12 e os 19 anos.
A sociedade se modernizou e as mulheres vislumbraram diferentes perspectivas de vida. No entanto, isso não impediu que, apesar da divulgação de métodos contraceptivos, a cada ano mais jovens engravidem numa idade em que outras ainda dormem abraçadas com o ursinho de pelúcia. A gravidez na adolescência é considerada de alto risco. Daí a importância indiscutível do pré-natal para evitar, nesses casos, complicações durante a gestação e o parto.
É importante a orientação médica prévia a iniciação, para que possam ser esclarecidas algumas questões como a anticoncepção e prevenção de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST).
Além de uma orientação sexual: sobre anseios, medos e expectativas.
Fonte: José Bento de Souza é médico ginecologista e obstetra. Escreveu diversos livros e apresenta um programa sobre o tema na TV.