A discussão sobre a influência da televisão na formação dos valores infantis ainda é uma questão que preocupa, pois o universo de informações assimilado através das novelas, dos desenhos e programas infantis nem sempre é adequado à maturidade infantil.
Se não há um adulto por perto, que possa esclarecer essa realidade fragmentada que a TV apresenta, pontuando os exageros e as aberrações expostas, a compreensão por parte das crianças poderá gerar um entendimento pouco positivo sobre os comportamentos veiculados na programação.
Contudo, proibir que os filhos tenham contato com a TV não é a melhor atitude, mesmo porque tudo que é proibido desperta mais curiosidade ainda. Determinar o tempo que a TV pode ficar ligada é uma regra válida, pois isso imporá uma disciplina às atividades das crianças, que vão passar a preencher o tempo livre restante com outros tipos de entretenimentos. Não podemos esquecer que a TV gera uma acomodação, vivida inclusive por muitos adultos.
Também é importante fazermos uma seleção dos programas que costumamos assistir em família, pois nossos filhos seguem nossos exemplos e tendem a assimilar parte de nossos hábitos. Se ocupamos nosso tempo de lazer com abobrinhas televisivas, certamente estimulamos em nossas crianças o mesmo tipo de prazer.
Bons programas, que têm um conteúdo cultural ou informativo merecem estar na lista de nossos interesses. Porém, se o prazer dos pais está em ver novelas, seriados, filmes e programas de auditório, como não poderão proibir os filhos de estarem ali com eles, é fundamental adotarem uma atitude crítica diante dos acontecimentos mostrados na tela, conversando com as crianças sobre os contra valores transmitidos na programação.
Muitas vezes, a TV mostra posturas agressivas e egoístas dos personagens que aparecem nas novelas; expõem relacionamentos afetivos pouco satisfatórios, envolvendo amor, dinheiro, infidelidade e poder num jogo entre homens e mulheres; ou transmitem uma realidade social violenta que é amedrontadora para uma criança pouco amadurecida. Os pais podem observar esses recortes expostos na mídia, mostrando aos filhos o que pensam e o que consideram inadequado.
Por outro lado, seria muito satisfatório, se aos finais de semana, ao invés de ficarem sentados diante da TV, os pais motivassem toda a família para um passeio a um parque, a uma praça da cidade, a um museu; ou fossem ao cinema… Enfim, se usassem suas horas disponíveis para fazer uma troca saudável com os filhos.
Diante de tanta agitação moderna, o convívio familiar está cada vez mais reduzido. Pouco tempo é priorizado para se olhar os filhos, conversar com eles e saber o que estão pensando ou querendo para suas vidas… Pouco falamos de nós, de nossos sonhos… Pouco nos abraçamos…
E tudo isso é tão necessário para se estar feliz, que temos de tentar sair do lugar acomodado em que a TV nos coloca para redescobrir a fonte de prazer que é o contato humano.
Essa humanização torna-se uma prioridade neste novo milênio, se quisermos uma sociedade mais equilibrada e menos violenta. Invista na relação afetiva com seus filhos. Eles merecem e você também.
Ângela Vieira de Albuquerque Martins – Jornalista profissional, formada em Comunicação Social; Terapeuta Familiar, pós-graduada na PUC-SP, atua na orientação familiar, conduz a coluna De Olho na Criança (Jovem Pan FM).