Amor transitório

A corruptela do amor que acostumamos chamar de sentimento e que se embrenhou em nossa sociedade traz, entre tantas mazelas, uma síndrome ou um ciclo de retardo no desenvolvimento da maturidade dos indivíduos. Maturidade é definida de muitas maneiras, a maturidade que me refiro aqui é aquela que faz a pessoa reconhecer as diferentes fases da vida e saber lidar com elas. Ficar preso em uma fase da vida ou retroceder em alguma dessas partes em nome do que quer que seja apresenta sua nota de desequilíbrio.

É simples e fácil de explicar. Acontece muito com atores e artistas famosos. Trata-se de acreditar que amor é apenas um sentimento e ir em frente na busca da exploração do amor como o manifestar das emoções. Ora, o amor tem mesmo sentimentos, embora essa não seja a sua essência ou mesmo sua forma principal. É como considerar as pupilas ao olho inteiro. O pior problema ao se comparar o amor um sentimento é que todo sentimento passa. Escolha qualquer um, todos são saciáveis e mesmo que não tenham sido saciados desaparecem da mesma maneira que se manifestaram: involuntariamente.

A partir daí podemos entender o tal ciclo. Trata-se de buscar algum romance. Ao encontrá-lo sente-se todas as avassaladoras sensações e sentimentos que o desejo e a paixão, proporcionam as pessoas. Aquela sensação do descobrimento, do primeiro toque, do primeiro beijo, dos primeiros encontros, toda a atmosfera que rege esses momentos. Os tremores, os arrepios, a fisiologia que se rende a essa relação humana. Quanto mais novo o sentimento, mais intenso ele será. Por isso tudo é maravilhoso no começo. Mas essa fase também passa. Graças a Deus ou jamais amadureceríamos.

Quando essa fase passa as coisas começam a se tornar mais comuns e rotineiras na relação. Isso é “ruim” para quem está sintonizado apenas no sentimento e na busca pessoal por satisfação mas é bom porque permite que esse romance se estenda além do egoísmo para uma relação que deve beneficiar mais o outro do que a sí mesmo. Surge uma parceria entre os dois. Uma união que se parece mais com uma relação de irmandade, amizade e cumplicidade do que com uma relação de exploração sexual e explosões de desejo. Ai é que complica para quem não entende o que é amor de verdade. Porque a ausência do sentimento e do desejo, agora amenizados e as vezes até ausentes em certos períodos, fazem parecer que o amor acabou e que a felicidade foi embora e que talvez a relação não seja tudo aquilo que se imaginava.

A ditadura do sentimento e do sexo começa a dar as ordens e construir um clima de insatisfação. Até que a falta de comprometimento, principalmente em casais que não se casam, começa a cristalizar. Quando os dois tem essa mesma visão de amor mais rápido ainda eles optam pelo rompimento. Mas quando um dos dois não pensa assim, se sente traído pelo outro surge o sofrimento pela impossibilidade de reação e sentirá refém da decisão do outro ou melhor, dos sentimentos, sempre passageiros do outro.

Ai o ciclo se reinicia. Na busca daqueles mesmos sentimentos anteriormente sentidos saí-se em busca dos mesmos como um viciado ou quiçá maiores arroubos de sentimentos e emoções da primeira vez sentidas. Esse ciclo não tem fim. Por isso dei os atores e artistas como exemplos. São bastante afetados por esse fenômeno. Nota-se pelo tempo que levam em cada relacionamento e o volume deles que colecionam em vida.

A despeito de suas idades e experiências de vida, desculpam-se em nome do “amor” mera ilusão.

Sinalizam que estão no caminho da busca da felicidade e ninguém ousa questioná-los por isso. Mas estão retornando constantemente ao inicio de um ciclo. Numa busca cada vez mais frustrante, cada vez mais repetitiva, cada vez mais vazia, um desperdício de vida.

Não há retorno. Por isso escrevo esse texto em nome de uma vida mais madura em nossos relacionamentos, portanto, viva tudo o que a vida tem a te oferecer no amor, não como quem busca beneficios para sí, mas como quem busca beneficiar o outro, isso é a essência do amor. E a vida coroará de frutos e alegrias aqueles que chegarem saudavelmente até a ultima fase da vida nesta Terra. Ao ver o rastro de amor que sua vida desenhou em benefício dos outros.

Pr. Diego Ignácio Barreto
Amigo e colaborador do Cada Dia

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Pericles Ramos

Olá, sou Pericles Ramos, sou Terapeuta Familiar e Palestrante na área da Família, formado em Filosofia e Teologia. Há 27 anos, escrevo artigos para sites e apresento programas em várias rádios.

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