Para entreter uma criança com idade entre um e três anos não é preciso contratar um palhaço, nem lhe comprar a loja de brinquedos em peso. O que faz falta é ensinar-lhe a brincar.
NINGUÉM NASCE SABENDO BRINCAR
É algo que tu lhe tens de ensinar. Precisa que tu lhe fales, lhe expliques o que pode fazer com o comboio de trem, com as argolas…
Não podes limitar-te a tratar fisicamente da criança e depois deixá-la entregue a si mesma: que ela se desembarace e se divirta. Entretanto, continuas com os trabalhos domésticos ou sais de casa deixando a criancinha na companhia de uma pessoa enfadonha, que não faz a menor ideia de como entreter os miúdos.
Por muito que te esforces por lhe comprares a boneca da moda, se não lhe ensinares a brincar com ela acabará por se aborrecer e por a deixar abandonada nalgum canto da casa. Mas fazer isto não é assim tão difícil. Só é preciso um pouco de vontade e de tempo da tua parte.
No dia do aniversário oferece-lhe um balde de lego para montar. Se passares algum tempo, em dias alternados ou aos fins de semana, a manejar as peças com o pequenito, ao fim de algum tempo será capaz de passar horas com o brinquedo, muito divertido.
Se, pelo contrário, lhe dás tal e qual como veio da loja e nunca mais lhe ligas, acabarás por ter as peças todas espalhadas num cesto de brinquedos a abarrotar, e a criatura aborrecidíssima, agarrada às tuas saias e a pedir-te que lhe ligues a televisão, enquanto tu, desesperada, te lamentas com o teu marido por teres gasto o dinheiro naquele brinquedo, que acabou por ser posto de lado ao fim de dois minutos.
O meu filho de dois anos tem toda a espécie de brinquedos e não se entretém com nada.
Este é um grande erro: que a criança tenha à sua disposição e ao seu alcance todos os brinquedos. Rapidamente se fartará deles e não brincará com nenhum.
É mais aconselhável deixar uns quantos à vista, como elemento decorativo, para alegrar o quarto, e o resto guardá-los à custódia da mãe. De quando em quando tiras da gaveta um brinquedo, que o teu filho não via há três meses, e julgará que é novo. Ensinas-lhe a brincar com ele e de certeza que passa uns quantos dias divertidíssimo com a novidade, que depois voltas a guardar para outra oportunidade.
Quais as vantagens desta forma de atuar?
– A criança está continuamente a receber novidades, somente porque há rotação dos mesmos brinquedos.
– Poupas um dinheirão em bonecas e carrinhos novos. Ao guardá-los durante uns tempos e depois fazê-los aparecer, parecem novos à criança e a tua bolsa agradece.
Um programa educativo
A atividade lúdica é, nos primeiros anos, praticamente o único meio de chegar à criança, de te meteres na sua vida.
Podes educar a criança através da brincadeira
Podes mostrar-lhe comportamentos, atitudes e virtudes que deve seguir. Não vejas nas brincadeiras apenas um meio de entretenimento, mas também a melhor arma para educar uma criança nos primeiros anos.
A atividade lúdica serve tanto para entreter como para educar
Deves conjugar numa só atividade o entretenimento e a educação. O vosso filho assimilará, da forma mais natural, simples e divertida, o princípio de que há umas normas que têm de reger a sua vida. Se fazes da educação um jogo durante os primeiros anos, não será difícil à criança ser arrumada, obediente, carinhosa, etc., porque assimilou tudo isso sem traumas, como num jogo.
As brincadeiras devem estar sempre integradas num programa educativo
Devem estar minuciosamente elaboradas pelos pais. Deste modo, o jogo que ensinas ao teu filho não é um jogo qualquer, mas sim um jogo cujo objetivo é desenvolver a sua imaginação, a sua memória, obediência, etc., passando uns momentos divertidos:
– Se queres que seja arrumado, inventa o jogo A ver quem apanha tudo primeiro: a mãe ou o menino ? Quem ganhar terá um prêmio.
– Se queres desenvolver a sua imaginação, brinque com máscaras, ou dê-lhe massa de modelar para que molde um boneco ou uma bola.
– Para que aprenda a preocupar-se com os outros, põe-no a cuidar dos bonecos: que lhes dê banho, que os vista, que lhes dê de comer…
– Quando fizeres doce, convida-a a ajudar-te. Aos poucos aprenderá a gostar de cozinhar.
– Se der um pano de pó à pequenita de três anos, ficará radiante por ir atrás de ti limpar o pó. Assim se habitua a ter a casa limpa.
– Enquanto costuras, podes animá-la a fazer o mesmo com um trapinho, e assim começará a gostar de costura.
– A partir dos dois anos e meio uma criança pode ficar encantada por ter encargos. Sente-se muito importante e é uma maneira de começar a dar-lhe responsabilidades.
– Habitua-a a escutar e a compreender os contos, para captar a sua atenção. Uma criança a quem tenhas lido muitas histórias desde pequena, não terá qualquer dificuldade, a partir dos dois anos e meio, em escutá-los atentamente numa fita de gravador ou disco, enquanto tu estiveres ocupada.
Se a criança já fala, podes pedir-lhe que vos conte. É um bom método para que aprenda a memorizar e, mais tarde, para compreender o que lê.
– Música: Coloque um disco e faz com que cante ao ritmo da melodia. Pouco a pouco a criança irá educando o seu sentido musical.
– Ginástica: arranja um colchão velho e põe-no no chão para que possa dar cambalhotas. Põe um sofá no quarto do pequeno, onde possa saltar sem perigo e sem estragar nada. É um modo de habituá-lo ao exercício físico, tão saudável para o corpo.
– Casinhas: construa uma com os mais variados materiais, como almofadas, caixas… Hás de ver como se diverte voltando a fazê-la e dando largas à sua imaginação.
– Trazer amiguinhos – melhor dito, os filhos das amigas da mãe – para brincar em casa, ajuda-a a sociabilizar-se e a abrir o seu ego; aprende a compartilhar.
– Jogos educativos, como puzzles (quebra-cabeças), são de grande utilidade. Ajudam à criança, a saber, discorrer corretamente.
– Água: pode passar horas metendo e tirando bonecos de dentro de água. É um modo de fazer com que goste de tomar banho em casa, e depois, na piscina.
No início, o pai e a mãe devem fazer estas coisas com o filho. Com o tempo, a criança brincará sozinha.
As saídas diárias ao parque, enquanto não frequenta uma escola, são indispensáveis na vida da criança. Toma contato com a natureza, faz exercício e relaciona-se com outros meninos. Aos fins-de-semana procura levar o teu filho para fora da cidade, para o campo. Aos poucos ir-se-á habituando a amar a natureza. Mostra-lhe as flores, as árvores, as plantas, o céu…
Regras de ouro para usar os brinquedos:
Dá-lhe os brinquedos adequados à sua idade
A criança deve aprender a desfrutá-los.
O avô, que tem uma loucura pelas suas netinhas de 1 e 3 anos, dá-lhes uns presentes sofisticadíssimos. A mim faz-me imensa pena. São uns brinquedos muito complicados e caríssimos, que elas não sabem apreciar como o poderiam fazer dentro de alguns anos.
– Evita oferecer presentes sem qualquer motivo. Marca uma data-chave (Natal, aniversário). A criança espera ansiosamente a chegada desses dias.
– Não pense em comprar-lhe tudo o que lhe passa pela cabeça, só para que a criança te deixe em paz. Explica-lhe que tem de esperar pelos aniversários ou pelo Natal. Com o tempo acabará por entender e deixará de ser caprichosa.
– Não faças um drama porque a criança estragou algum brinquedo.
– Aconselha os avós e os outros parentes quanto aos brinquedos a dar ao pequeno. Assim podes evitar que receba ao mesmo tempo sete bonecos e dez caminhões.
O jogo como norma de comportamento
Através do jogo podes observar o comportamento da criança nos acontecimentos de todos os dias
É uma possibilidade de corrigires os defeitos que possa ter.
– Uma criança que não é capaz de brincar, é uma criança triste. Se reparares que o teu filho não costuma brincar, investiga as razões do seu comportamento. Certamente necessita de mais amor e carinho da tua parte, para reafirmar a sua personalidade e começar a socializar-se.
– Uma criança que, quando brinca, quer tudo para ela, precisa que os seus pais estejam atentos. Se não se habitua, a saber, compartilhar logo desde pequena, pode chegar a tornar-se numa pessoa tremendamente egoísta.
– A criança que, por sistema, estraga os brinquedos e que passa o tempo no parque a zangar-se, a sujar a roupa e a magoar-se, é com certeza uma criança com falta de atenção e de carinho. Para chamar a atenção, por um lado, e por julgar que os seus pais não se importam com o que lhe acontece, não toma cuidado com ela, nem com as suas coisas.
– A criança que, pelo contrário, vai impecável para o parque e regressa igualmente limpa, costuma querer dizer que em casa são um bocado rigorosos com ela. Provavelmente em adulto será insuportável quando vir um grãozinho de pó! Pobre do seu cônjuge quando se casar…
– No meio é que está a virtude. Isto é, deixemos que a criança se suje, sem ter por isso de se magoar ou de estragar os brinquedos.
Blanca Jordán de Urríes – Autora do livro Os teus filhos de 1 a 3 anos. Coleção Fazer Família. Editora Rei dos Livros.