O nascimento de um bebê é sinônimo de vida nova e confraternização, porém, esse momento especial requer atenção de parentes e amigos em relação às primeiras visitas. A pediatra Vera Lúcia Jornada Krebs, do Hospital das Clínicas da FMUSP, ligado à Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, deixa claro que o recém-nascido não é uma atração turística, precisa ficar em um ambiente tranquilo e indica os cuidados para que a visita não seja deselegante e prejudicial.
Muitas pessoas exageram no ‘carinho’ e acabam dando pequenos apertões na bochecha, beijos e toques não muito delicados nas mãozinhas. O que eles não sabem é que essas atitudes são inadequadas, pois podem trazer problemas ao recém-nascido.
A pediatra indica que a primeira visita na maternidade seja limitada a parentes próximos, como o pai, avós e irmãos, pois é um momento de recuperação da mãe e maior atenção à vida do bebê. “As primeiras 24 horas do recém-nascido são bastante delicadas, pois é um período de estabilização, portanto um descuido em uma visita pode acarretar grandes problemas à saúde do bebê”, afirma.
Segundo a pediatra, os primeiros cuidados ao visitar a criança na maternidade devem ser com a higiene das mãos. “No berçário do HC, é feito um controle de higiene em quem fará a visita. É checado se a pessoa está com algum resfriado, ou outro tipo de infecção”, explica, acrescentando que também é dado um auxílio sobre a maneira correta de lavar as mãos.
A médica também alerta para que os celulares sejam desligados no momento da visita, pois o barulho pode incomodar. As câmeras fotográficas e filmadoras também são incômodas, pois a luz do flash pode causar desconforto para a criança ou despertá-la, caso esteja dormindo.
Dependendo do espaço físico do quarto em que a mãe estiver, o ambiente pode ficar pequeno para visitas. “As visitas devem ser organizadas para que não forme uma aglomeração em volta do bebê. Esse tipo de ocasião favorece contágios e excesso de barulho, e isso pode causar um estresse ao recém-nascido”, explica.
A nicotina é uma substância extremamente prejudicial à vida do recém-nascido. De acordo com o pneumologista Joaquim Rodrigues, do Instituto da Criança, o contato do bebê com a fumaça do cigarro o expõe a uma probabilidade dez vezes maior a adquirir uma pneumonia aguda, e ao aparecimento de um fenômeno chamado de hiper-responsividade brônquica – uma resposta exagerada do pulmão a um agravo externo, que acontece quando a criança tem uma maior sensibilidade à infecções respiratórias – como bronquite, renite e otite.
“Quando a criança aspira os produtos da fumaça do cigarro, automaticamente os mecanismos de defesa do pulmão são afetados. O sistema respiratório sofre maior dificuldade em expulsar substâncias prejudiciais, provocando o estreitamento dos brônquios, por onde passa o ar”, explica o especialista, acrescentando que essas deficiências respiratórias se estendem para a vida adulta.
O pneumologista destaca que as substâncias do cigarro ficam impregnadas em roupas e mãos dos fumantes e os resíduos que permanecem são tão prejudiciais quanto a própria fumaça. “O ideal é que o fumante não faça o uso do cigarro no dia da visita”, alerta. Joaquim esclarece que as pneumonias mais graves acontecem no primeiro ano de vida e o risco de morte por pneumonia em um bebê com semanas de vida é ainda maior. “Em 25% dos casos em que bebês apresentam dificuldades respiratórias, em crises de asmas e bronquites, são ocasionadas por reflexos da exposição à fumaça do cigarro”.
Na maternidade ou em casa, a pediatra Vera Krebs alerta que o tempo de visita deve ser curto, pois tanto a mãe quanto o recém-nascido precisam de descanso e de um ambiente silencioso e calmo. Caso a mãe ofereça algum agrado à visita, como um simples café ou uma xícara de chá, é adequado não aceitar, pois ela não deve ter nenhum tipo de trabalho além de cuidar do bebê.
Assim que a mãe recebe alta, Vera sinaliza que os cuidados na maternidade devem ser mantidos em casa. Ela deve ser orientada sobre os cuidados com o filho, tendo oportunidade de tirar todas as dúvidas junto ao pediatra e equipe multiprofissional, a respeito dos cuidados com o recém-nascido. As recomendações também devem ser dadas por escrito.
Na lista, a pediatra sugere: “o recém-nascido é extremamente frágil, por isso ele não pode ser apertado, ou pular de colo em colo. Beijar o bebê, além de deselegante, é prejudicial”, observa, acrescentando que a criança em idade escolar é grande transmissora de bactérias e vírus, por isso é aconselhável que o contato da criança com o bebê seja reduzido.
Além do recém-nascido, a mamãe também precisa de cuidados e tranquilidade, pois, neste período ela está frágil e com o sono em desordem. “É inconveniente aparecer à noite e sem ligar antes para avisar. Interromper o descanso da mãe e seu bebê pode sobrecarregá-la”, afirma.
A pediatra acredita que tomados estes cuidados, a visita pode se tornar um momento especial para a mãe e seu filho.
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