Nestes dias que antecedem a data de 8 de março, data reservada para homenagear as mulheres e sua luta e reivindicações sociais políticas e econômicas, tenho lido e conversado muito sobre o assunto. Em alguns momentos me surpreendi negativamente tanto pelo posicionamento masculino de que alguns ainda consideram um ser diferente, inferior e sem capacidade, mas principalmente feminino em não perceber a necessidade de mudanças e melhoramentos, assim como também não valorizar as vitórias alcançadas.
Li alguns artigos que apesar de defenderem as mulheres, traziam embutido em suas entrelinhas ainda um conceito errôneo do que é ser mulher. Algumas expressões como: “elas também tem suas qualidades”, “elas também tem seus direitos” e “sua capacidade de também terem funções além do lar”. Realmente me assustaram, pois foi possível perceber nestas expressões que ainda existe um conceito equivocado sobre presença e o papel feminino nos destinos e no futuro da humanidade.
Conversando com mulheres sobre esta data tão significativa, por duas vezes em dias, horários, locais e circunstâncias diferentes, fui abordado por mulheres que não concordavam com a data e seus significados.
As alegações foram: que havia muita conversa e pouca ação, que não se via nenhum motivo para se ter uma data especial e finalmente que é um absurdo ter q ficar lembrando que a mulher é um ser humano e que não seria desta forma que se alcançaria o respeito.
Com certeza elas estavam certas em seus posicionamentos e reivindicações. Porém, não posso negar os objetivos mais profundos e extensivos contidos na data. Ela chama atenção para uma situação anômala.
Infelizmente somos obrigados por uma cultura distorcida buscar uma data não para que a data seja respeitada, mas que chame a atenção para uma realidade dura, insensível e machista sobre a condição inferior a qual a mulher foi submetida.
Com o passar dos séculos esta dominação acabou sendo introjetada de tal forma que a própria mulher reconhecia a si própria como um ser inferior.
Ora, as mulheres não são uma parte a parte, elas são parte de um todo que se chama ser humano, dentro desta equação ela representa cinqüenta por cento. Não são seres que por bondade ou compaixão masculina lhes cedemos espaço, mas são seres que estão de forma persistente, leal, reconquistando um espaço que sempre foi seu por direito.
Não existe uma hierarquia, uma superioridade de um gênero sexual sobre o outro. Somos semelhantes, porém diferentes.
Concordo com a expressão de uma amiga que disse: “é um absurdo ter que ficar lembrando que a mulher é um ser humano, é óbvio que a mulher tem que ser reconhecida… não deveria ser necessária esta história de dia da mulher”.
Mas discordo quando diz que “essa idéia de escolher um dia para lembrar das lutas da mulher por igualdade foi uma idéia machista que reforça a idéia de inferioridade da mulher” a data não é uma idéia machista, é um marco para lembrança de uma luta que ainda não se findou, uma data que ao ser comemorada, reconhece o valor de alguém que sempre esteve nos bastidores em vez de estar atuando no palco da historia. Uma data que chama atenção de homens que ainda não se aperceberam ou que tem apenas uma percepção parcial que a mulher é um ser igual em direitos, responsabilidades, deveres e que está no mesmo nível que o homem.
Acredito que em determinado momento esta data cairá em esquecimento, e não precisará ser invocada, pois todos poderão se dar contas que somos seres sem diferenças qualitativas, que temos a mesma dimensão, a mesma natureza e proporção.
Parabéns a todas as mulheres… parabéns a todos os homens que respeitam e valorizam as mulheres, que respeitam ao homem que respeitam o ser humano.
Péricles Ramos