Respeito é bom e todos gostam
Ninguém melhor do que eu, mãe ou pai como você, para saber o quanto nos é difícil negar coisas a criaturinhas tão fofas e sedutoras como nossos filhos, principalmente quando temos os recursos para atendê-los. Aí, então, nos perguntamos: o que representa um carrinho a mais, um novo brinquedo? Se tivermos o dinheiro necessário para comprar o que querem, por que não satisfazê-los? Se nosso filho pediu três pacotes de balas e não um apenas, por que não atendê-lo? Se pudermos sair de casa escondidos para que não chore, por que provocar lágrimas? Se lhe dá tanto prazer comer todos os bombons da caixa, por que fazê-lo pensar nos outros? Além do mais, é tão mais fácil e mais agradável sermos bonzinhos.
Respeito é bom e todos gostam
O problema é que ser pai é muito mais do que apenas ser bonzinho com os filhos. Ser pai é ter uma função e responsabilidade social perante nossos próprios filhos e a sociedade também. Portanto, quando decido negar um carrinho a um filho, mesmo podendo comprar e sofrendo por dizer-lhe não, porque ele já tem outros dez ou vinte, estou lhe ensinando que existe um limite para o TER. Estou, indiretamente, valorizando o SER.
Quando cedemos a todas as reivindicações, estamos caracterizando uma relação de dominação, estamos colaborando para que a criança depreenda do nosso próprio exemplo o que queremos que ela seja na vida: uma pessoa que não aceita limites e que não respeita o outro como indivíduo. Porque, para poder ter tudo na vida quando adulta, fatalmente ela terá de ser um indivíduo extremamente competitivo e provavelmente com muita flexibilidade ética. Caso contrário, como conseguir tudo? Como aceitar qualquer derrota, qualquer não, se nunca lhe fizeram crer que isso é possível e até normal?
Não estou defendendo que se crie um ser acomodado, sem ambições e derrotista. De forma alguma. É o equilíbrio que precisa existir: o reconhecimento realista de que, na vida, às vezes se ganha e outras se perde. Para fazer com que um indivíduo seja um lutador, um ganhador, é preciso que desde logo ele aprenda a lutar pelo que deseja, sim, mas com suas próprias armas e recursos, e não fazendo com que creia que alguém (os pais, por exemplo) lhe dará tudo sempre e de mão beijada.
Satisfazer as necessidades das crianças é uma obrigação dos pais, mas é preciso que possamos distinguir claramente o que é uma real necessidade daquilo que, na verdade, constitui apenas uma atitude derivada de nossa própria incapacidade de julgar, subjugados que estamos ao consumismo, à competitividade exacerbada da nossa sociedade, ao individualismo e aos nossos próprios medos e frustrações.
Tânia Zagury – Filósofa, mestre em Educação, professora adjunta da UFRJ, autora dos livros Sem Padecer no Paraíso, Educar sem Culpa, O Adolescente por Ele Mesmo, Rampa e Encurtando a Adolescência, entre outros.