Todo jovem tem de tomar pelo menos duas grandes importantes decisões na vida. A escolha da profissão
e a do cônjuge. A maioria estuda e namora o futuro cônjuge nos mínimos detalhes, mas escolhe e
descarta dezenas de profissões com uma única frase. Muitos passarão mais tempo no emprego do que com
o marido, a esposa e a família. Quando chegarem em casa, todos já estarão dormindo.
Como melhorar a escolha da profissão com a mesma dedicação com que se escolhe um cônjuge?
- Namore também sua profissão. Se seus pais possuem um conhecido que exerça uma profissão, peça permissão para acompanhá-lo por algumas semanas para sentir como é seu dia-a-dia. Mesmo que tenha de ficar nos corredores, você verá o ambiente, sentirá um pouco a rotina diária. Assista a uma semana de aulas em sua futura faculdade. Comece a explorar as variantes da profissão, descubra as linhas de pensamento, os estilos. Quem são as “feras” dessa área e como são os estilos de vida. Combinam com o seu?
- Não se apresse. Se você estiver na dúvida quanto à escolha da profissão, tire um ano mochilando pelo mundo afora. É preferível “perder” um ano a perder toda uma vida profissional. A escolha da profissão precisa ser cuidadosa, porque hoje em dia é mais fácil trocar de cônjuge que de profissão. Aos 32 anos você não terá mais disposição para prestar um novo vestibular. Essa pressão da sociedade e dos pais para uma escolha imediata vem do tempo em que a expectativa de vida de um adulto era de somente quarenta anos. Hoje a expectativa média de vida é de 82 anos. Um ano ou dois não farão a mínima diferença.
- O não por exclusão. Nossa tendência é sempre achar algum defeito numa idéia nova. “Engenheiros sujam as mãos”, “contabilidade é para tímidos”, “advocacia é para quem fala bem”, “finanças e economia são para especuladores”. Toda profissão tem seus defeitos. Se você andou escolhendo algumas profissões por exclusão, volte atrás e pense de novo.
- Explore o cinza. Justamente porque o estereótipo do advogado é aquele que fala bem, existe enorme falta de advogados que sejam bons em matemática. Por isso, advogados tributaristas, os que mexem com números, são muito bem pagos no Brasil.
- Não confunda interesse com proposta de vida. Todos nós deveríamos ter interesse em história e filosofia. Espero que nos fins de semana vocês leiam esses temas, e não mais um livro técnico. Todo mundo deveria estudar um pouco de economia, psicologia e direito, mas nem todos irão querer estudar essas matérias a vida inteira. O simples interesse não é suficiente para fazer de você um profissional dedicado e totalmente comprometido para o resto da vida. Uma fã do pianista Arthur Moreira Lima disse que daria a vida para tocar como ele. “Pois eu dei a minha vida”, respondeu Moreira Lima. Se você está disposto a dar sua vida por história ou filosofia, aí não é um mero interesse, é sem dúvida uma vocação. Portanto, vá em frente. Se você escolher uma profissão no par-ou-ímpar, lembre-se de que poderá estar tirando a vaga de alguém que tem vocação, a vaga de um futuro Moreira Lima.
Faça um favor à sociedade e àqueles que adorariam estar em seu lugar: não tome a vaga de quem realmente precisa. A sociedade, os excluídos e seus futuros professores agradecerão efusivamente. Portanto, vá com calma. Estude a vida inteira e escolha sua profissão de uma forma profissional. Boa sorte e meus votos de sucesso.
Stephen Kanitz é administrador (www.kanitz.com.br)
Artigo Publicado na Revista Veja, Editora Abril, edição 1781, ano 35, nº 49, 11 de dezembro de 2002, página 20.