Após um ano de trabalho junto a 173 mulheres portadoras de dores crônicas, por meio do grupo de apoio psicológico gratuito “Mulheres que Doem Demais”, o Centro de Dor e Neurocirurgia Funcional do Hospital 9 de Julho mapeou os principais fatores influenciadores da qualidade de vida destas mulheres, relacionados ao seu trabalho, família e vida social.
Coordenada pela psicóloga dra. Dirce Perissinotti, as mulheres se reuniram durante o ano de 2008, uma vez por mês, numa média de 15 pessoas por sessão. O objetivo era compartilhar as consequências da dor crônica em suas vidas, recebendo das terapeutas orientações para a melhor identificação de suas limitações e estratégias de superação. Em paralelo às discussões de grupo, as participantes respondiam um questionário com indicações do grau de interferência da dor em suas vidas, sob diferentes aspectos.
Reconhecidas cientificamente por possuírem maior incidência de doenças relacionadas às dores crônicas, 60% das mulheres disseram que um dos fatores de maior relevância no contexto da dor é a falta de apoio familiar. Elas referem falta de atenção e valorização de seus problemas, com 49,09% referindo esta carência especialmente nos momentos de crise, em que consideram que as pessoas deveriam tratá-las com mais carinho.
De acordo com dra. Dirce, a ansiedade e a angustia das portadoras de dor crônica, somados ao ritmo de vida das pessoas que as cercam, acaba por exacerbar os sintomas da dor pela falta de tempo que dispõem juntas. “Embora o apoio da família e das demais pessoas ao redor seja importante e necessário, a mulher precisa aprender a identificar as limitações do outro, buscando nela outras maneiras para amenizar seu sofrimento.”
No período de coleta de dados para a pesquisa, as mulheres também relataram limitações para realizar tarefas simples do cotidiano, como limpar a casa ou mesmo caminhar, subir escadas, com 89,19% referindo ter diminuindo o trabalho ou atividade regular diária em função da dor.
Dra. Dirce ressalta que os dados refletem a própria adesão das mulheres aos tratamentos propostos, já que elas não se sentem dispostas. Neste contexto, a depressão soma-se ao quadro, gerando um ciclo de piora física e emocional. Prova disso é que 74,55% afirmaram que a depressão aumenta a sua dor.
A psicóloga chama a atenção para outro dado da pesquisa, em que 50,91% das mulheres do grupo responderam que a prática de exercícios físicos diminui a intensidade da dor que sentem. “Isso mostra que estar ativa, tanto física como mentalmente, ajuda a promover melhor bem estar, fazendo com que mesmo que a dor não seja extinta, fique em segundo plano na vida destas mulheres”.Principais respostas à perguntas diretas
Dificultou para realizar atividades de rotina em casa: 45,95%
Teve dificuldade para levantar 5kg: 62,16%
Dificultou muito subir vários lances de escada: 45,95%
Dificultou muito fazer atividades como curvar-se e ajoelhar-se: 40,54%
Teve dificuldade para andar 1 quarteirão: 45,95%
Teve dificuldade para tomar banho: 89,19%
Diminuiu o trabalho ou atividade regular diária: 89,19%
Outros resultados da análise
Atribuem a responsabilidade àqueles que as amam para ajudar quando sentem dor: 54,55%
Dizem que o stress aumenta a dor: 65,45%
Dizem que a ansiedade aumenta a dor: 67,27%
Reconhecem que concentrada ou relaxada diminui a dor:36,36%
Atestam que a depressão aumenta a dor: 74,55%
Dizem que precisam de mais carinho quando estão com dor: 56,36%
Reconhecem poder aprender a lidar com a dor: 43,64%
http://www.segs.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=31346&Itemid=157