O casamento é uma etapa importante na vida das pessoas. Consiste num ritual de passagem, um marco para a construção da vida a dois. Normalmente, insere muitos preparativos, em relação ao enxoval, à moradia, à cerimônia, seja ela religiosa e/ou civil, mas, também, pelo festejo que requer diversas tarefas. Isso acaba envolvendo o casal e suas respectivas famílias.
Ao considerarmos o casal como o arquiteto da família, observa-se que se deveria dar igual ou maior valor a sua preparação para essa etapa de vida, o que tem sido, ao longo do tempo, de alguma forma, uma preocupação das instituições religiosas.
Se pensarmos que cada um dos parceiros traz uma bagagem própria, e que ela é construída por suas experiências familiares, nas quais valores, comportamentos, mitos e expectativas estão inseridos, constatamos que a vida a dois traz um grande desafio: a união de duas famílias. No casal cada um representa a sua família. Isso significa enfrentar diferenças pessoais.
O convívio vai exigir que o casal negocie questões, que cada um estava acostumado a definir em termos individuais, e que pertencem ao seu referencial familiar, como por exemplo: o que comer, como utilizar o dinheiro, com quem se reunir para lazer, etc.
Na fase de namoro, o casal vive um para o outro, mas dentro de uma idealização. Não se dá conta das diferenças pessoais, das pequenas diferenças que podem se transformar em dificuldades no relacionamento. Após a união descobre que as preferências, gostos, opiniões opostas entre eles, ao invés de agir como ponto de complementaridade, só os afastam. As discórdias passam a ser sinal de desamor. As diferenças passam a ser conflito de interesses. Inicia-se, assim, a disputa pelo “o meu é que é melhor”.
Na preparação para o casamento já se pode observar o processo familiar na formação do casal: quem toma a iniciativa da organização, quem paga, quem está aborrecido, etc.
Essa é uma etapa do ciclo de vida familiar que envolve alteração da posição de cada um dos parceiros em relação a sua família de origem. A independência financeira auxilia este processo, pois permite a manutenção dos laços de afeto, mas estabelece com clareza as fronteiras em relação aos pais. “É necessário ser menos filhos para se tornar um casal”.
Para o casal construir sua própria história é necessário: o autoconhecimento, o conhecimento mútuo, a aceitação e respeito às diferenças, a responsabilidade de cada um assumir a sua parte no relacionamento. Isso consiste em poder reconhecer os seus padrões relacionais repetitivos oriundos das suas histórias familiares e identificá-los, para que não se caia no ponto comum das acusações recíprocas. Enfim, é de vital importância para a transformação do eu e você em nós: reconhecer que se têm experiências diferentes e que cada um precisa sair da sua percepção limitada e poder ver o outro como ele é. Desta forma, constrói-se uma estrada de mão dupla: dar e receber.
Norma Emiliano – Assistente Social, Mestre em Política Social, especialista em Terapia de Família e Gerontologia, amiga e colaboradora do Cada Dia. www.pensandoemfamilia.com.br