Eletroestimulação, cones, monitoramento e exercícios de contração vaginais, e em alguns casos, anais. Calma, não se trata de métodos eróticos ou pornográficos, nem de produtos vendidos em sex shop. Tais procedimentos são utilizados no trabalho de fortalecimento chamado de musculação íntima, indicado para quem tem problemas de flacidez muscular na região do períneo (região entre a vagina e o ânus) e que deve ser indicado e acompanhado por profissionais.
E se a pergunta é se o método ajuda na obtenção de mais prazer, a resposta é “sim, ajuda”. “Quando tem orgasmo, há uma contração involuntária dessa musculatura e, se está mais trabalhada, a resposta sexual é mais adequada teoricamente”, disse a ginecologista, obstetra e uroginecologista Márcia Salvador Géo, do Hospital Mater Dei, de Belo Horizonte.
A confeiteira Cibele Ramos Lage, de 47 anos, garante que, na prática, dá certo mesmo. O prazer aumenta. Ela começou a utilizá-lo após sofrer por três anos com o incômodo da incontinência urinária. Normalmente, não conseguia segurar a urina quando tossia ou ria. Tinha flacidez do períneo e, para evitar uma cirurgia, sua médica recomendou exercitar os músculos da região com o auxílio da fisioterapia. Ela acreditava que a ginástica íntima não daria resultado, mas funcionou.
Exercícios fundamentais
Enquanto há mulheres que subestimam – até por preconceito – os benefícios dessa musculação na prevenção de problemas ligados à área do períneo (também chamada de assoalho pélvico), muitas outras ao menos sabem da existência da possibilidade. E a repetição da contração correta dessa musculatura é fundamental a todas pelo menos em algum momento da vida, como esclarece a fisioterapeuta Elza Baracho, coordenadora do serviço de fisioterapia da Uromater do Hospital Mater Dei e professora da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais.
“Se não o exercita, pode provocar a ruptura de alguns ligamentos que sustentam órgãos como útero, bexiga, reto e uretra. Quando eles perdem o local ideal, perdem a função e podem surgir incontinência urinaria, incontinência fecal, alguma disfunção sexual ou frouxidão vaginal, o que leva a perder gases involuntariamente pela vagina, algo constrangedor por conta do barulho. Algum órgão também pode até sair e ficar exposto, sujeitando-se à úlcera e a infecções”, disse a médica Márcia.
A médica explica que o trabalho muscular é similar ao ato de interromper a urina. Não existe uma quantidade de repetições ideal de contração, porque depende de cada paciente. Ao contrário da falsa ideia de que a mulherada tem de aderir a essa malhação sozinha, Márcia avisa que é importante contar com a orientação de um profissional, evitando que o exercício seja feito incorretamente. Portanto, a proposta é similar à das academias convencionais, que contam com professores de educação física para criar as séries de exercícios de cada aluno e ensiná-los como cumprir a meta.
Contraindicação
Além disso, é importante ressaltar que a malhação íntima não é indicada em alguns casos, segundo a fisioterapeuta Elza. “Quando o músculo já é muito forte, também não é bom. Se não for necessário e fizer o exercício, pode trazer prisão de ventre, retenção de urina, dor no ato sexual. Para esses casos, existem exercícios com o intuito de alongar e relaxar, recomendados individualmente por um fisioterapeuta.”
Vale lembrar que há um grupo de risco para o enfraquecimento do períneo. É composto por grávidas e pessoas com peso elevado, que entraram na menopausa ou na terceira idade. Não hesite em tirar dúvidas sobre o assunto com o ginecologista.
Como prevenir é sempre melhor do que tratar, a uroginecologista lista o que prejudica a questão: estar de mal com a balança, carregar peso, exercícios de alto impacto, esforço evacuatório crônico e tosse crônica.
Fisioterapia
Depois de adiar o início da fisioterapia por um ano, a confeiteira Cibele rendeu-se à proposta da médica no começo de 2009. Já sentiu uma diferença positiva na metade das dez sessões recomendadas.
Para adquirir a consciência da musculatura, contou com o auxílio do biofeedback, treinamento realizado com instrumentos que monitoram a contração muscular. “Era introduzida uma sonda na vagina e eu fazia alguns exercícios de contração, enquanto o computador media a força do movimento.”
Também se beneficiou da eletroestimulação vaginal, que consiste em uma sonda ligada a um aparelho que emite correntes elétricas, indicada em casos de incontinência urinária. “Sentia alguns choquinhos dentro da vagina.” Atualmente, faz acompanhamento periódico com um profissional e exercita-se em casa.
Entre os auxílios da fisioterapia, de acordo com Elza, estão os cones vaginais (dispositivo com pesos diferentes que é introduzido na vagina e busca fortalecer o músculo) e a eletroestimulação anal (para quem apresenta incontinência fecal).
Cirurgia
Quando a musculação não reverte o problema, normalmente porque já houve a ruptura dos ligamentos do assoalho pélvico, a solução é a cirurgia. A proposta consiste em corrigir a anatomia ao mesmo tempo em que estabelece novamente a função do órgão prejudicado.
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