Há pessoas que se apoiam na opinião popular para justificar suas ideias e comportamentos tanto favoráveis quanto desfavoráveis. Elas recorrem a já desgastada desculpa: “Se todo mundo faz, eu também posso”. Decerto que sim. O fato, porém, revela que o pensamento não está a serviço da solitária reflexão interior, mas, do massificado barulho externo. Ao errar, sofre o conjunto, e não apenas a parte. Se a cesta de ovos cair, perde-se a refeição toda. O que leva alguém a se manter sob tal condição?
Embora exista claramente o risco do prejuízo nas situações de massificação, enxergá-lo requer ponderação. É possível fazer emergir algumas explicações razoáveis para o caso. Uma delas é a padronização do comportamento, que pode servir para criar força, sobretudo emocional onde tal energia não se faria presente através da lógica. É como ganhar no grito. A diferença, no entanto, está em não haver necessidade de se berrar. Parece racional, haja vista a maioria concordar, mas é uma ilusão que, de pessoal, alastra-se com facilidade ao reforçador campo comunitário. A tática está em se mostrar coletivamente à frente do individual. Assim convém.
Contudo, se o equívoco se impor inexorável, provando o engano pluralizado, ainda resta apelar à outra interpretação: “Confiei no grupo, mas me enganei”. Eis a tábua “salvadora”. O ovo que quebra com a queda da cesta parece refletir o infortúnio de estar acompanhado do excedente peso existente nos demais ovos. A tática está em se esconder individualmente atrás do erro coletivo. Assim também convém.
Para enriquecer esta análise, vale a pena recorrer a uma fábula escrita no século VI a. C. por Esopo. “Uma viúva que trabalhava arduamente tinha por hábito acordar suas jovens criadas com o canto do galo para a lida. Cansadas de tanto trabalhar sem trégua, as criadas resolveram matar o galo: achavam que a razão de toda sua desgraça era ele, que acordava a senhora antes de o dia nascer. Qual nada! Morto o galo, o destino delas piorou ainda mais: pois a senhora, sem o galo e, consequentemente, sem seu relógio, as convocava ainda mais cedo”. A narração alegórica lhe pareceu real?
Vê-se, com efeito, uma sequência de desculpas, que pode se alternar conforme a conveniência. Percebe-se ainda a insistência pela qual alguém pode se manter na roda da estagnação ao não assumir uma postura reflexiva particular e mais responsável sobre si mesmo na vida pessoal e profissional. O esbanjador que critica a taxa de juros cobrada na fatura do cartão de crédito é um exemplo clássico. O empregado que reclama por aumento de salário sem oferecer qualquer valor profissional a mais é outra amostra.
Mas, cuidado! Visto de fora, é fácil identificar tal engano no outro. Pode-se até apontá-lo abertamente ao seu autor, causando todo tipo de resposta e de embaraço, inclusive. Porém, ao lançar a questão sobre si próprio, que tipo de reação eventualmente se dará? Negar ou aceitar? Pelo menos, pensar a respeito, é possível?
Seja responsável!
*Armando Correa de Siqueira Neto é psicólogo (CRP 06/69637), palestrante, professor e mestre em Liderança. Coautor dos livros Gigantes da Motivação, Gigantes da Liderança e Educação 2006. E-mail: selfcursos@uol.com.br