Quando a primeira filha nasceu, minha esposa não teve leite suficiente para alimentá-la e fui encaminhado pelo pediatra à farmácia mais próxima para comprar uma lata de leite de vaca em pó. Voltei praguejando aos sete ventos pelo preço da lata – que, depois de aberta, mostrou ser ainda mais cara, pois metade era cheia de vento. Apenas a outra metade continha o famigerado pó.
Para provar que nada está tão ruim que não possa piorar um pouquinho, a pequena cria que colocamos no mundo teve alergia também ao leite de vaca em pó. Mais uma vez, o pediatra me encaminhou à farmácia mais próxima, mas dessa vez pelo menos ele foi camarada e avisou:
– Você vai comprar esse aqui, de soja. É muito bom, praticamente não dá alergia, mas é um pouco mais caro que o leite que você estava comprando antes.
Um pouco mais caro? Pura modéstia dele. Cada lata do leite de soja para bebês valia umas 5 latas do leite em pó comum. Naqueles tempos de inflação galopante, investir em latas de leite de soja quase superava a especulação com dólares, aproximando-se com vantagens do overnight.
Apesar de todo meu investimento nas latas terminar se transformando em fraldas e mais fraldas contendo subprodutos do metabolismo do bebê, o gasto valeu à pena. A soja mostrou-se uma excelente opção de suplemento alimentar e a pequena criança indefesa cresceu para se tornar uma típica adolescente inteligente, emburrada e com crises de TPM assustadoras.
O contato mais aprofundado com a soja naqueles anos despertou em mim um sincero respeito por este alimento excepcional. Leguminosa pertencente à mesma família do feijão, da lentilha e da ervilha, a soja é altamente nutritiva e riquíssima em proteínas.
Originário da China, o grão adaptou-se bem ao clima brasileiro. Atualmente, sua área de plantio no país é quase duas vezes maior que o tamanho da Inglaterra. Para você ter uma idéia melhor do que é isso: uma fila de caminhões, contendo a produção brasileira de soja de todo um ano, seria suficiente para dar mais de uma volta e meia em torno do planeta.
Nas últimas décadas, as pesquisas vêm mostrando que a soja pode fazer pequenas maravilhas à sua saúde. Quer exemplos?
Uma pesquisa publicada em 1995 na prestigiada revista cientifica New England Journal of Medicine mostrou que o consumo de produtos derivados da soja é capaz de reduzir os níveis sangüíneos de gorduras. Estudos subseqüentes realizados na Itália e no Canadá comprovaram este efeito protetor da soja: pessoas com concentrações muito elevadas de colesterol LDL (o colesterol “ruim”) podem reduzir estes níveis em até 24% apenas diminuindo o consumo de carnes vermelhas e consumindo pelo menos 50 gramas proteínas de soja por dia.
Os cientistas descobriram ainda que fitoquímicos presentes na soja, especialmente um chamado Genisteína, parecem ser capazes de reduzir o risco para osteoporose e doenças cardiovasculares.
Um modo bem simples de incorporar a soja à sua dieta habitual consiste em tomar um ou mais copos de leite de soja por dia: cada copo contém cerca de 4-10 gramas de proteína de soja. Cem gramas de Tofu, um queijo elaborado a partir do leite de soja, possuem cerca de 12 gramas de proteína de soja, e representa outro modo saboroso de consumir o grão.
A soja pode ser consumida ainda na forma de farinhas, pasta (Missô), molho (Shoyu), torrada (como amendoim) ou em cápsulas contendo extratos padronizados.
Mas lembre-se: o equilíbrio é fundamental. O consumo excessivo de soja (p.ex.: mais de 500 mL de leite de soja, ou 200 gramas de Tofu ou 50 gramas do grão torrado) pode resultar em problemas na glândula tireóide (Hipotireoidismo) e dificuldade de absorção de alguns sais minerais importantes para sua saúde. Ao introduzir a soja na sua dieta, faça-o de modo sensato e balanceado, de preferência após aconselhamento de um médico ou nutricionista.
Alessandro Loiola – Médico, escritor e palestrante, autor dos livros “Vida e Saúde da Criança” e “Crianças em forma: saúde na balança” – Amigo e colaborador do Cada Dia.