Modernamente, têm-se tornado cada vez mais popular, a ideia de que a ciência e Deus são vertentes do pensamento completamente opostas entre si. Sob esta ótica, criou-se no mundo, e até mesmo entre os confessos cristãos, certa percepção de que a visão cientifica, seria uma visão mais correta do mundo. Tais conclusões são um tanto precipitadas quando analisadas friamente.
A ciência, como construção humana, é calcada em uma série de experiências cognitivas, ou seja, vivenciadas pelo próprio homem, fazendo com que ela mesma, esteja impregnada de uma visão humana do mundo.
Em outras palavras, é como se o homem construísse um óculos para enxergar melhor o mundo que o rodeia, mas usasse em suas lentes o revestimento de uma película vermelha. Deste modo, não importa quão azul esteja o céu, o observador sempre verá uma tonalidade avermelhada quando o focar com o auxílio deste instrumento.
Neste sentido, um dos grandes equívocos na comparação, entre o foco cientifico e o foco teológico é a ideia de que a ciência é neutra e imparcial. Muito pelo contrário, sendo a ciência um instrumento humano, de compreensão do mundo, esta se encontra impregnada de ideologias e é constantemente utilizada para defender as posições mais antagônicas possíveis.
Os contrários a esta visão argumentam que paira nesta constatação uma confusão entre a ciência e as conclusões formuladas pelos cientistas. Argumentam ainda, que a ciência quando aplicada de modo puro apresenta resultados neutros e que são as conclusões dos interpretes destes resultados que podem estar impregnadas de ideologias. Não nos parece lógica tal afirmativa quando se parte de um raciocínio despido de ideologias.
A palavra ideologia significa sistema de ideias ou sistema de formação de ideias ou ideais (AURÉLIO, 2002). Embora exista uma série de definições sobre o que venha a ser ciência, de certa forma paira um consenso de que a ciência envolve uma série de conhecimentos aplicados com uma finalidade: a finalidade de conhecer algo.
Neste sentido, a ciência, enquanto construção humana, pode ser entendida como um sistema de construção de ideias. Mas a própria afirmação de que a ciência seria um sistema de construção de ideias neutras, apresenta em si embutida um sistema de ideias previamente concebidas: a ideia da neutralidade e da imparcialidade.
Pode-se perceber, portanto, que ideia de ciência, enquanto método imparcial de conhecimento e entendimento do mundo se encontra completamente contaminada pela presença de um sistema de ideias previamente concebidas, ou seja, uma ideologia.
Neste ponto, perde força o argumento de que a Teologia seria inferior na sua capacidade de buscar a verdade, uma vez que ambas se encontram no mesmo patamar hierárquico, por partirem de um pressuposto de ideias previamente concebidas.
Enquanto uma (a ciência), parte de uma ideologia (sistema de ideias) calcadas no pressuposto da neutralidade, a outra, formula suas conclusões calcadas no sistema de ideias que permeiam o conceito de Deus, como um ser real, supremo, onipotente, onipresente e onisciente.
Parece desanimador aos céticos, ateus e agnósticos que passaram toda a sua vida refutando a ideia de um Deus pessoal supremo, julgando-as por demais ideológicas. Mal sabiam que se basearam, ao longo de toda a vida, em um pressuposto tão ideológico quanto.
Neste ponto e exatamente neste ponto se insere a importância de nossa fé, pois ela será a medida exata de quão real, acreditamos ser a nossa ideologia, ou nosso sistema de ideias sobre Deus. Por mais incompleto que ele seja, dada nossas limitações enquanto seres humanos pecadores, é esse conjunto de pressupostos que nos habilitará a receber a graça Divina.
Robson Monteiro dos Santos – Geógrafo com mestrado em Engenharia Ambiental pela UERJ.