Em tempos de pouca leitura educativa e de muita impostura pedagógica, quando todos são seduzidos pelo linguajar estropiado dos “oi”, “falou”, e tantas interjeições e chavões rutilantes de indigência vocabular, é oportuno lembrar que as palavras são a vitrine em que expomos o que há de melhor ou pior em nosso estoque mental de idéias.
Elas, além de serem um dos principais meios pelos quais demonstramos como nos sentimos em relação aos demais, também constituem um sinal exterior do que está se passando em nossa mente. “As palavras são mais do que um indício do caráter; têm poder de reagir sobre o caráter”.
Nada é mais vivo e perigoso que uma palavra. S. Tiago com seu pragmatismo ético lembra que “todos tropeçamos em muitas coisas. Mas se alguém não tropeça no falar, é perfeito e capaz de refrear todo o corpo”. (3:2)
É decepcionante perceber que mesmo protagonistas da vida nacional que deveriam ser paradigmas do respeito e da decência desçam aos palavrões, à linguagem cáustica e cínica, numa demonstração de incapacidade para argumentar e expor com decoro as suas idéias.
Episódios recentes de repercussão nacional mostram que mesmo homens que querem governar o Brasil, dão, pela linguagem que usam, demonstrações de que não conseguem governar sequer a própria língua. Confrontados por idéias adversas, ativam o vulcão do ódio e vomitam palavras ofensivas, deselegantes. E que dizer dos insultos, xingamentos e palavrões trocados em momentos de tensão nas casas legislativas de todos os níveis?
Apesar de instruídos, ainda não aprenderam que o palavreado agressivo ou obsceno é uma halitose que denuncia uma infecção interna. As palavras que soltamos são um indício exterior do que se acha na mente. “A boca fala do que está cheio o coração”. (S. Mateus 12:34) A linguagem costuma radiografar o caráter.
Mesmo para uma época marcada pelo liberalismo e pela pobreza na comunicação interpessoal, o palavrão e o insulto prosseguem sendo impróprios para os lábios de pessoas decentes e sérias. Se isto vale para pessoas comuns, muito mais para o homem público que precisa mostrar autocontrole.
A máxima testada pelo tempo nos lembra que os meninos que empinam “pipas” têm a possibilidade de trazer de volta seus “pássaros” coloridos lá das alturas, mas o mesmo não acontece com os que empinam palavras.
Há necessidade de contínua vigilância. Todos têm no seu interior vulcões extintos ou em atividade que a qualquer momento podem expelir lavas incandescentes de palavras ofensivas, ríspidas. Para que os nossos pensamentos se apresentem como personagens respeitáveis e atraentes, precisam estar revestidos de “linguagem sã e irrepreensível”.
Dizem os pescadores – que já não são os maiores mentirosos que se conhece – que alguns peixes, a exemplo do dourado e da corvina, ao se depararem com a rede de pesca são possuídos de raiva e numa intrepidez suicida, abrem a boca, mordem a linha, se enroscam na rede e morrem com a linha na boca, quando se apenas abrissem a boca se veriam livres e salvos. Numa antítese disto, pessoas há que, não por fecharem mas por abrirem a boca,determinam a própria ruína. Verdadeiramente, “o que guarda a sua boca e a sua língua guarda a sua alma da angústia”. (Provérbios 21:23).
Marcos Osmar Schultz – Pastor, amigo e colaborador do Cada Dia