Como é difícil adolescer. Esta é uma verdade tanto para aqueles que estão atravessando esta fase quanto para seus próprios pais. Aquele mundo harmônico, previsível e belo, onde tudo se encontrava no seu devido lugar, começa a desmoronar feito um castelo de areia.
Todas as regras, tudo no que se acreditava, todas as fantasias parecem não ter mais lugar no cotidiano dos adolescentes. A casa se transforma num inferno, o quarto antes todo ajeitadinho toma novas e estranhas feições, suas roupas não refletem mais o gosto de seus pais, mas expressam um desejo de definir valores mais pessoais, ainda que com contornos instáveis.
O ambiente saudável dá lugar a um palco por onde circulam infindáveis discussões, na qual cada um dos lados procura fazer prevalecer a sua opinião, mesmo que ela seja radical.
Os pais também denominam este período de aborrescência, procurando com isso desconsiderar sua importância e a dor que existe no outro lado. A incompreensão e os problemas só existem em seus filhos, pois aquela criança adorável, que quase não dava trabalho, acatava ordens, estava sempre bem vestida, hoje parece um ser de outro planeta.
Alguma coisa mudou e é muito penoso aceitar mudanças. Geralmente os pais desejam que aquela paz, antes existente, perdure por toda uma eternidade, pouco percebendo que nesta fase o indivíduo está buscando uma identidade própria, um modelo pessoal, mesmo que em alguns momentos tenha ares de instabilidade e indefinição.
Quando os filhos entram na adolescência, alguns pais até procuram a ajuda de um psicoterapeuta, sempre no sentido de fazer com que o profissional conserte seu filho, pois tudo o que se deveria fazer não deu o resultado esperado. O ambiente familiar encontra-se num caos e, talvez, com uma ajuda de fora, aquele alienígena possa voltar ao normal. Poucos são os pais que percebem a necessidade de uma orientação para lidar com uma situação que é muito nova também para eles. De regra, o problema é sempre o outro, nunca de nós mesmos. Não se apercebe de que, muitas vezes, a inflexibilidade está no outro extremo.
A rigidez, em boa parte, encontra-se nos próprios pais ao não aceitarem serem questionados em suas posturas. As relações, antes verticalizadas – pais têm o poder e filhos simplesmente obedecem – vão exigindo, de ambos os lados, a abertura para um diálogo de concessões, que permita o desenvolvimento de uma estrutura emocional básica para uma expressão madura e adulta no jovem.
O olhar do indivíduo, na adolescência, se desloca de sua pequena constelação familiar, onde os pais têm grande importância, para uma visão mais globalizante, que lhe permitirá perceber outra realidade de mundo, mais rica em variações que sua família. Daí a importância em vivenciar novas atitudes, não no sentido de incorporá-las, mas, sim, de experimentá-las para perceber até que ponto são viáveis para si.
Quando o diálogo preexiste nesta relação pais-filhos, acontecendo o respeito pela individualidade de cada um, quando a fala apresenta nuances de amorosidade e os papéis de cada membro da família estão bem definidos, os conflitos podem ser mais amenos e solucionáveis.
Não se deve esperar uma época específica para observar como estão indo os filhos. Nas estruturas onde sempre aconteceram encontros, onde os relacionamentos foram pautados com afeto e atenção, os valores transmitidos tinham certa coerência quanto à postura dos pais, a passagem do mundo da criança para o do adulto se dará com revoluções pouco críticas.
Não é o liberal ou o rígido que necessita ser questionado, mas o que é coerente com o estilo de vida de uma família. Adotar um procedimento contrário aos valores pessoais irá transmitir uma fragilidade e falsidade nas convicções. Ser verdadeiro com os próprios princípios, no mínimo, dá mais segurança – só posso falar daquilo que sei e vivenciei, nada mais.
Muitas vezes, a orientação necessita, isto sim, ser dada aos pais. São eles que necessitam ser auxiliados a reverem seus próprios valores, sua inflexibilidade, sua rigidez frente a novas posturas. Não somente a sabedoria e a experiência fazem parte do mundo adulto, mas também o endurecimento interior e a necessidade de demonstrar poder. Talvez esteja aí parte do conflito entre as gerações.
José Gino Dinelli – Psicoterapeuta.
Planeta Educação